Valsa Vienense
Ofusca e suga, este vazio. Às vezes tenho a certeza de que fazes de propósito - daí do longe de onde me chamas - para, enquanto alegremente prossegues o carrossel da tua vida, mandares a intervalos regulares flechas electrificadas que, amavelmente, me perseguem e torturam até me fazerem arder o coraçao. E eu, obediente, sigo espalhando as cinzas pelos cafés, pelos reflexos das montras, pela porta da casa onde morámos quando tu ainda eras de carne e osso. Vá, confessa que fazes de propósito para me atormentares na cara das crianças, nas músicas da rádio, nos poemas! Que tens um prazer sádico em fulminar-me através das livrarias, do Kafka, das fotografias, das ruas de Lisboa, do Jonas (sempre lá, sempre lá a rir-se de mim), dos gatos, e até daquele planeta mais brilhante que não tenho a certeza se é Vénus ou Marte!!!
Adágio
A Garota de Ipanema espreita-me por sobre o ombro e lembra-me de referir ainda a tal luz que me escondes no bolso depois do coração ardido. De repente procuro e, no meio da fuligem, lá está ela, brilhando como um berlinde galáctico. Às vezes ponho-a na mesa de cabeceira, com cuidado, e serve-me de santo (ou, se preferires, de anjo) que vela por mim e a quem eu posso rezar antes de me deitar. Outras vezes atiro-a simplesmente para o céu e vejo-a transformar-se numa estrela, que me faz serenar até desaparecer por trás duma nuvem, ou até os meus olhos finalmente se fecharem, embalados pelas curvas da estrada. Mas normalmente o que prefiro fazer (mas não contes a ninguém!) é sorrir por dentro, pôr a mão no bolso e agarrar a luz com força, enquanto deixo o seu calor expandir-se lentamente até ao meu coração.
12/01/04
01h15m
quinta-feira, 25 de novembro de 2004
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1 comentário:
lembro-me tão bem desse tempo, conversas na estrada da Amoreira, no café com natas, na paragem do autocarro, enfim acabamos sempre por estar a sofrer por alguma coisa...
Espero que essa luz que brilhava ainda te proteja, apesar de já nao ser a mesma.
sof
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