segunda-feira, 20 de junho de 2005

Da posse e do ciúme

«- De repente, ela disse-me: estou a passar um bocado formidável consigo.
- Pois bem, é uma vitória, disse Françoise. "Estou a passar um bocado formidável consigo"... Estaria Xavière de pé, com os olhos perdidos no vago, ou sentada na borda do divã e a olhar bem de frente para Pierre? Não valia a pena perguntar; como definir o cambiante preciso da voz dela, o perfume do quarto nesse instante? As palavras não podiam senão levar mais perto do mistério, mas sem por isso o tornarem menos impenetrável: seria apenas cobrir o coração de uma sombra ainda mais fria.»

«Calipso, ah, Calipso! Penso muitas vezes nela. Amou Ulisses. Viveram juntos sete anos. Não se sabe quanto tempo Ulisses partilhara o leito de Penélope, mas não foi decerto tanto tempo. No entanto exalta-se a dor de Penélope e troça-se das lágrimas de Calipso.»

«... como esses grandes bichos de concha invulnerável, mas que trazem na carne mole minúsculos vermes que escrupulosamente os devoram.»

1 comentário:

bulletproof disse...

E para não fugir à regra, aqui vai:

1º e 3º excertos retirados d'A Convidada, de Simone de Beauvoir; 2º excerto d'A Ignorância, de Kundera.