sábado, 16 de setembro de 2006

Quando o sol entra morno pela vidraça do café

«Ó morto, eu corro, eu corro para chegar aqui, como tu, para me fazer arrastar pelos calcanhares. O que valem esta fúria que me impele, esta ânsia de batalhas e de amores, vistas de onde as observam os teus olhos fechados, a tua cabeça caída que bamboleia sobre as pedras? Eu o sei, ó morto, és tu que me fazes saber. Mas o que muda? Nada. Não existem outros dias além daqueles nossos dias que nos levam à cova, para nós, vivos, e também para vós, mortos. Que me seja dado não desperdiçá-los, não perder nada do que sou e do que poderei ser. (...) Espero que tenhas empregado bem os teus dias, ó morto. Para ti, os dados já estão lançados. Para mim, ainda rodopiam no copo. E eu amo, ó morto, a minha ansiedade, não a tua paz.»

Italo Calvino, O Cavaleiro Inexistente

2 comentários:

Anónimo disse...

vou treinar isto para uma pessa de teatro!!!:)
joao pais

bulletproof disse...

Pessa?...