Às vezes
(muitas vezes)
quando nada faz sentido
- e aqui vem, senhores, ele está aí, o cliché, mais que o tema-cliché vem a escrita-cliché, o cliché Lobo Antunes -
quero escrever. E fico logo baralhada, entaramelada nas palavras.
Não. Já percebi. As ideias é que ficam grogues.
Tento cultivar a simplicidade e a simplicidade perde-me as ideias. A estúpida. Já não pode uma pessoa confiar as suas angústias, medos, receios profundos e blá blá blá à simplicidade que logo se extraviam. A simplicidade e os seus problemas logísiticos.
Ia eu a dizer dos momentos, não, das ideias, que me parece mais interessante agora. O extravio das ideias, como quando andei naquela fase em que todas as noites pumba!, vinho tinto, e as ideias perdidas para sempre.
Também quando partilhamos as ideias acontece. Finalmente inteirados do seu fatal destino (o das ideias), decidimos trocar-lhes as voltas: confidenciamo-las. Às pessoas, às folhas: invariavelmente deturpadas.
As ideias.
Li um livro em que as ideias eram pedras. Ouvi uma canção em que eram mãos. Mãos presas nos anéis da razão e do frio. E depois eram mães.
Mães é bonito.
As nossas ideias eram as nossas mães, presas (que engraçado) nos anais da paixão e do tédio.
Ideias.
No fundo, agora recordo, no fundo o que eu queria dizer quando as minhas ideias escavaram o túnel era que
que
agora esqueci-me
mas era que estou apaixonada por uma ideia
(e por acaso não era nada disto, mas que bonito que soa!)
e no fundo sim, estou
(e no fundo também custa-me isto, a transmutação da ideia pela merda da simplicidade, ou do seu contrário, ou nada disto, o que me custa é ter-me esquecido da ideia)
E agora lido já tudo isto me parece feio, e tão longe da ideia
porque o que eu quero é sair daqui e encontrá-la, a ela, à original, que está no Rossio às onze e meia com a sua mala a tiracolo e aqueles olhos, meu deus, aqueles olhos
(muitas vezes)
quando nada faz sentido
- e aqui vem, senhores, ele está aí, o cliché, mais que o tema-cliché vem a escrita-cliché, o cliché Lobo Antunes -
quero escrever. E fico logo baralhada, entaramelada nas palavras.
Não. Já percebi. As ideias é que ficam grogues.
Tento cultivar a simplicidade e a simplicidade perde-me as ideias. A estúpida. Já não pode uma pessoa confiar as suas angústias, medos, receios profundos e blá blá blá à simplicidade que logo se extraviam. A simplicidade e os seus problemas logísiticos.
Ia eu a dizer dos momentos, não, das ideias, que me parece mais interessante agora. O extravio das ideias, como quando andei naquela fase em que todas as noites pumba!, vinho tinto, e as ideias perdidas para sempre.
Também quando partilhamos as ideias acontece. Finalmente inteirados do seu fatal destino (o das ideias), decidimos trocar-lhes as voltas: confidenciamo-las. Às pessoas, às folhas: invariavelmente deturpadas.
As ideias.
Li um livro em que as ideias eram pedras. Ouvi uma canção em que eram mãos. Mãos presas nos anéis da razão e do frio. E depois eram mães.
Mães é bonito.
As nossas ideias eram as nossas mães, presas (que engraçado) nos anais da paixão e do tédio.
Ideias.
No fundo, agora recordo, no fundo o que eu queria dizer quando as minhas ideias escavaram o túnel era que
que
agora esqueci-me
mas era que estou apaixonada por uma ideia
(e por acaso não era nada disto, mas que bonito que soa!)
e no fundo sim, estou
(e no fundo também custa-me isto, a transmutação da ideia pela merda da simplicidade, ou do seu contrário, ou nada disto, o que me custa é ter-me esquecido da ideia)
E agora lido já tudo isto me parece feio, e tão longe da ideia
porque o que eu quero é sair daqui e encontrá-la, a ela, à original, que está no Rossio às onze e meia com a sua mala a tiracolo e aqueles olhos, meu deus, aqueles olhos
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