sábado, 13 de setembro de 2008

na senda do pensamento inócuo I

se escrever sou normal
se aproveitar este sol quente
se ler
se partilhar pensamentos inócuos
e se fantasiar sobre encenações e performances também
é preciso cultivar os pensamentos inócuos
é preciso estudar, aprender, trabalhar
e fazer sopa
também é preciso divagar sobre os problemas do mundo, sobre angústias existenciais e dúvidas sobre o futuro
divagar sobre a minha personalidade traumatizada, estranha e tão, tão interessante
é preciso preocupar-me
e irritar-me e discutir visões estéticas com veemência & virulência
é preciso cultivar as amizades, ter um ouvido atento e sempre uma solução na ponta da língua
saber apreciar os fins-de-tarde com sol, como hoje
perseguir o amor, o sexo
recordar o passado com aquele misto de nostalgia e orgulho
enfim, é preciso cultivar os pensamentos inócuos
reaprender a operar com eles, automatizá-los
fazer-lhes festas sempre que decidem aparecer, endeusá-los, mergulhar bem fundo e não largar
não largar

1 comentário:

? disse...

Inofencivo mas poderoso.

Antes de mais tenho pena de não falar pessoalmente contigo há anos, qualquer afirmação que faça actualmente, será meramente baseada em palavras lidas. Acho-te uma mente muito curiosa, dai estar a ser um tão acídou leitor. Embora ache, por vezes, que a prepotência não jogue a teu favor, por mais evoluida que estejas em relação à "vítima". Sim, porque não te estou a ver, na eventualidade de encontrares um macaco, dizeres algo tipo: "nhé, nhé, nhé... sou muito mais evoluida que tu!" Basta que sejas tu a única a perceber que estás num degrau acima, não precisas subir mais dois e gritar: "viram? sou muito mais inteligente..." Mas a ideia não é escrever um livro de auto-ajuda nem fazer filosofia barata, o que quero mesmo é dar-te os parabéns... tu consegues viver com conteúdo num Mundo de vazios (refiro-me aos pseudo-artistas que se não fossem bonitos não eram "artistas").
Já fui obrigado a tentar... não consigo!