Teremos mesmo de jogar segundo as regras? Teremos mesmo de compactuar com sistemas que desprezamos de injustos e fúteis, "adaptando-nos"? Sendo "versáteis"? Misturar o que fazemos como profissão com a nossa vida pessoal, representando papéis mais agradáveis a quem contrata ou julga? Desculpem lá.
Vamos um pouco para além do óbvio. Somos todos os maiores a criticar o sistema comercial e mais visível. E agora pergunto a todos os que de nós têm a sorte de estar a trabalhar em teatro, por exemplo: quantos fomos contratados por audição?
Afinal quantos encenadores e directores "sérios", "da cena", "da arte e tal" escolhem os actores com quem vão trabalhar através de um método justo?
É sempre "a Joana". "O Manel". "Então e a nossa Fofa, não está a trabalhar agora! Vou-lhe ligar." E se for preciso são esses os primeiros a fazer o discursozinho da falta de oportunidades. Desculpem lá. Para esse papel e a fazê-lo melhor há 30 profissionais no desemprego - ou porque são jovens, ou porque chegaram agora, ou porque não vão às festas certas, ou porque não são "uns porreiraços, pá!", ou até só porque não foram ao Bairro naquele dia, quem sabe. E assim é. Sempre os mesmos. Não necessariamente os melhores ou os mais qualificados, mas sempre os mesmos.
Há felizmente honrosas excepções a esta regra. Mas raríssimas. De resto, um encenador optar por não ter o melhor potencial para cada personagem/espectáculo é algo que me ultrapassa totalmente. Somos todos amigos, não é? E versáteis, que somos. E tão de esquerda, que somos. E o governo, pá, que não nos dá nada, pá, que é sempre para os mesmos, pá! E nós o que fazemos? Chamamos os nossos amigos para trabalhar, coitados, que isto está uma crise, pá... Desculpem lá. Enquanto ninguém olhar para isto de uma forma séria, enquanto não houver em Portugal uma política de contratação com pés e cabeça, audições como forma e não excepção, enquanto não houver transparência de processos, não me venham com queixas sobre lobbys políticos e culturais e o escambau. O pequeno poder reflecte o grande? Ou é de baixo que as coisas se formam? Com tanta peça "com profundo significado social" que anda para aí (e bem na moda!), tanta reflexão culturo-estética-político-socio-metafísica por tanto reputado pensador enquanto encena e quando vai à caixinha mágica vender o seu peixe, é no mínimo ridícula esta situação. Tão instalada e tão tradicional que ninguém parece pensar nela sequer. E assim vamos. Sempre os mesmos. Sempre a mesma qualidade. O mesmo facilitismo. O mesmo cheiro.
Desculpem lá. Deve ser por ser 25 de Abril. Não deixem de me contratar por isto, hã? Eu nem queria bem ter dado a minha opinião, sabem. É o facebook, a pressão, foi sem querer, sim? Vamos lá todos marchar para a Avenida e não se fala mais nisto! Espero que ninguém tenha levado a sério esta parvoíce...
"Silêncio, já disse! Silêncio."
(Referente a http://www.new.facebook.com/note.php?note_id=73074634721&comments )
1 comentário:
Amén!
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