sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Anonimosidades

Não gosto de moderações. Também não gosto de anónimos. Odeio ser anónima. Nunca consigo ser completamente anónima. Já o meu nome verdadeiro, é raro dizer.
Não uso o meu nome porque é perigoso e é mentira. A pessoa que tem uma profissão e uma vida social e um facebook não é esta, nem heterónimo nenhum. A realidade é o parente pobre da ficção e eu acredito nisto mas depois como sou rebelde e iconoclasta faço a minha ficção toda verdadeira e digo que é ficção só para ser fixe. O ortónimo é um disfarce, só.
Nunca digo a ninguém real que existo. As pessoas com quem durmo não sabem que eu sou esta. Por isso não durmo com elas muito tempo.
Mas deixo pistas, sempre. No meu sonho é tudo a preto e branco e em película. Existe um detective noir de chapéu que segue os meus passos. Não desiste. Vira tudo do avesso. E encontra-me.
Por isso nunca sou completamente anónima. Porque sei que mais dia menos dia vai chegar, cavalgando no seu Macintosh de uma cor qualquer, uma alma perturbada e poética extremamente bem-parecida. Lá terá as suas neuroses, mas será audaz e irá descobrir-me por entre as brumas da internet, esvoaçando ao vento como o floquinho de neve único que sou.

(Sim, o texto descambou a certa altura. Só um nadinha arrependida de ter suicidado o heterónimo.)

5 comentários:

bulletproof disse...

Às vezes também digo merdas na internet de que me arrependo logo a seguir, portanto reformulo para "às vezes o anonimato é uma coisa boa", e isto perde imediatamente o sentido todo.

bulletproof disse...

Fogo, é tão difícil ser eu.

Unknown disse...

descambar por descambar...

não sei o que é ter só um nome. nunca tive só um nome. e se calhar nunca houve ninguém que me tenha conhecido inteiro. se calhar, nunca ninguém conhece ninguém inteiro. mas isso é filosofia, e eu sou um homem de pensamentos simples.

mas continuo a ser, todos os dias, mais que um, sendo um só. heterónimos... nascem e morrem; depois de caído o pano, depois de unido o criado ao criador, já não são a mesma coisa. porque a beleza do heterónimo é a liberdade do secreto, ou outro eu com outra voz, do outro eu com a mesma voz, do mesmo eu com outra voz, afinal. um nome é mais que só um nome. é uma identidade e uma pessoa e uma folha em branco para sermos o que somos mas "não podemos, não queremos, não sabemos ser".

pequena doroteia disse...

:)

:)

:)

Unknown disse...

;)

feliz ano novo, sua morta mais viva :)