nostalgia pequena

também eu já fui cinco posts num blog. pequeninos, na coluna da direita. com outras coisas por baixo e por cima. daqui a pouco já não vou estar na coluna pequena, como já deixei de estar num pedacinho de baço. gosto que me inspires e gosto que gostes, mesmo que dela. gosto que gostes dela e isso dá-me vontade de escrever porque ser intelectual é pobre e é isso mesmo. é terrivelmente bonito ou pelo menos parece-me que sim, ser eu própria cinco posts no registo de alguém. toca-me a maneira como falas do amor. às vezes gostava de ser escritora só para conseguir inventar objectos para o meu amor e escrever-lhes coisas bonitas como as que tu escreves. mas depois eles como eram a fingir não se iam tocar com as maneiras bonitas que eu ia inventar para lhes explicar as coisas que penso às vezes. coisas bonitas, do amor. depois se calhar um dia quando sentir isso por alguém verdadeiro não vou saber dizer. só parvoíces sobre os cactos e os juniperus e pedir desajeitadamente que se sentem ao meu lado quando chove. paixão está bem, porque faz estrelinhas e violinos e feridos e eu sei andar nela. apesar de parecer um contra-senso a paixão tem em si algo de budista e sabemos que vai passar. o amor assusta. se deres por ti a amar alguém errado já não há nada a fazer. sim, acho que se andarmos com atenção podemos escolher o amor. por isso é que a pressa é boa e a lentidão perigosa. peso e leveza, lentidão e rapidez, memória e esquecimento. ele assusta-me. ele não escreve coisas bonitas sobre o amor. eu vivo na ilusão ridícula de que tudo o que se escreve é verdade, acho que acredito muito mais na poesia que na realidade. se ele escrevesse eu ficava mais descansada e ele seria só isso, palavras escritas, que não mentem, nunca. e se eu não o conheço a tempo? e se um dia ele entrar aqui dentro de mansinho, sem aviso? sem alarmar os destroços do meu baço, direito ao outro lugar? e se um dia de repente eu me descobrir a escrever para ele coisas de amor e de escovas de dentes?