terça-feira, 31 de maio de 2011

post orgasmic chill

Um desejo irracional de magoar, de dizer há outra boca no lugar da tua boca,
há outras mãos no lugar das tuas mãos
um desejo de gritar
estragaste-me, estragaste-me
eu que não acredito em vinganças, eu que tenho pavor de magoar os outros
quero magoar-te, partir-te, estragar-te, ouvir-te gritar
quero dizer-te que te odeio porque te odeio porque te amo porque te odeio
quero dizer-te odeio-te
não te odeio mas quero que sofras
não te amo, não te amo, não te amo
não te amo
quero atirar as tuas coisas pela janela e gritar que te odeio
quero que saibas que agora existe outro corpo no teu lado da cama
quero gritar
vai-te foder
quero gritar
deixa-me em paz
quero gritar que pares de me espreitar com o teu telemovelzinho novo às nove da manhã
porque te odeio e porque nunca olhaste para trás e porque me disseste que me amavas e não é verdade não é verdade não é verdade e eu
odeio-te
e espero que sintas em pormenor as tuas mãos a desaparecer do meu corpo e serem substituídas por outras mãos e outras mãos e outras mãos
e que grites e dês murros na parede enquanto o imaginas a fazer-me vir
fodas cheias de sentimento, uma por cada dia em que não quiseste saber se eu estava viva ou morta
e ainda planear com extremismos românticos a maneira como o vou levar ao nosso restaurante que assim também vai ser só mais um, como tu
só mais um,
como tu
só mais um
odeio-te.

3 comentários:

Runner disse...

Fez-me lembrar disto:
http://www.youtube.com/watch?v=5RBHTXhK_1o

Paola Lappicy disse...

É quase como se eu te conhecesse, e escutasse estes teus gritos, e sentisse este teu ódio e o teu dito amor.

Mas espero que não. Gosto de anonimato. E não gosto de ódio. Nem de gritos. A não ser que este me mande me fuder - aí posso até gostar.

Esquece este teu ódio pós-orgasmo. E acende um cigarro. Que tudo se esquece. Até mesmo o ódio. Até mesmo, ainda mesmo o amor.

bulletproof disse...

Obrigada, Paola. Curioso, isto. Tive a mesma sensação ao ler-te, e um impulso quase irresistível de partilhar este texto específico contigo.
Tudo passa, sim. E de cada vez fico dividida sobre se isso será uma coisa boa.